Leandro Prior queria fazer surpresa no domingo, mas Polícia Militar não autorizou. PM alega que não distinguir pessoa por orientação sexual, mas que regulamento não prevê uniforme em ato
Do G1
A Polícia Militar (PM) negou o pedido do soldado Leandro Prior, de 28 anos, para usar a farda da corporação para pedir o namorado em casamento durante a tradicional Parada LGBT, no próximo domingo (23) em São Paulo. Nesta semana o G1 publica matérias relacionadas ao orgulho e a luta de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros por seus direitos.
A corporação ainda alegou que "não faz distinção de pessoa por sua orientação sexual ou identidade de gênero, incluindo os mais de 80 mil policiais militares de São Paulo".
“Acabamos de tomar ciência, mas não tenho cópia da documentação ainda. O comando de área indeferiu, alegando que não há autorização expressa para esse tipo de pedido no regimento interno da polícia”, falou o advogado de Leandro, Antonio Alexandre Dantas de Souza.
O advogado Antonio que defende os interesses do soldado Leandro, que na última sexta-feira (14) encaminhou documento à PM solicitando autorização para usar o uniforme da corporação no momento que pretendia oficializar o noivado com o namorado Elton da Silva Luiz, de 26, que é caça-talentos em uma agência de modelos. O policial estará de folga no domingo.
De acordo com o advogado de Leandro, ele e seu cliente vão discutir que medidas tomarão daqui para frente sobre a negativa da PM em não concordar com que o soldado use ‘a farda no seu noivado.
“Leandro está triste e desanimado. Sentarei com ele agora. Vamos verificar o que é importante e o que pode ser feito legalmente”, falou Antonio. “Seria algo grandioso, não só para ele quanto para muitos outros. Leandro tem orgulho de ser policial militar. Ele tem orgulho de ser quem ele é e de amar quem ele quiser. Ele reafirmou nesse pedido o orgulho que tem de usar essa farda. Tanto é que pede autorização superior para fazer uso dela num momento que seria especial".
Carta à PM
Procurado pelo G1, Leandro informou que não poderia comentar o caso. Documento obtido pela reportagem mostra que o policial enviou carta ao 13º Batalhão da PM, onde atua, elencando cinco itens para solicitar ao seu comando autorização para “uso do fardamento para oficialmente pedir meu companheiro em noivado durante a 23ª Parada do Orgulho LGBT”.
Entre os motivos descritos estão o fato de que neste ano é lembrado os 50 anos da invasão da polícia dos Estados Unidos ao bar Stonewall Inn, local onde gays se reuniam em Nova Iorque, o que “deu origem ao movimento moderno de luta dos direitos LGBT”.
Em outro item, Leandro cita que “passou e sofreu por homofobia institucionalmente” e, que diante disso, “viu como relevante importância social e excelente oportunidade a instituição para ela evidenciar e acenar à sociedade paulista e brasileira que não compactua com a homofobia”.
O que diz a PM
Em nota encaminhada por e-mail ao G1, a Secretaria da Segurança Pública informou que, como o uso do uniforme por policial militar de folga não está previsto no regulamento da Polícia Militar, a corporação "o pedido do soldado foi indeferido. Da mesma forma, há 5 anos, foi indeferido o pedido do grupo “PMs de Cristo”, que queria utilizar o uniforme durante a Marcha para Jesus."
Ainda segundo o comunicado, a "Polícia Militar elaborou um plano de policiamento para os dois grandes eventos que serão realizados na área central da capital paulista ao longo dos próximos dias: Marcha para Jesus e XXIII Parada LGBT +. Todo efetivo do CPA/M1, incluindo os setores administrativos, estará empenhado nesta operação, bem como o eventual reforço de outras unidades."
Leandro ficou conhecido nacionalmente em junho do ano passado, quando um vídeo gravado sem sua autorização o mostra fardado e beijando a boca de outro homem não identificado, em trajes civis. As cenas foram filmadas dentro do Metrô de São Paulo e repercutiram nas redes sociais depois de serem compartilhadas.
Naquela ocasião, o policial havia deixado o trabalho, mas aparecia fardado dentro de um vagão da Linha 3-Vermelha.
Leandro recebeu xingamentos e ameaças de morte. Ele ficou afastado temporariamente para cuidar de uma depressão. Ainda assim acionou a Polícia Civil e a Polícia Militar para tomarem providências.
Mesmo figurando como vítima de homofobia, o soldado terá de responder a um procedimento administrativo também na corporação. Segundo a PM, a atitude de Leandro no Metrô não obedeceu a regras de segurança exigidas pela corporação. Ele teria deixado o coldre da arma aberto.
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