O site diz que procuradores, entre eles Deltan
Dallagnol, trocaram mensagens com o atual ministro da Justiça sobre alguns
assuntos investigados. Os alvos das conversas denunciaram recentemente que
tiveram seus celulares hackeados ilegalmente
Do G1
O
site "Intercept" divulgou na noite deste domingo (9) trechos de
mensagens atribuídas a procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e
ao então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, extraídas do aplicativo
Telegram.
Os alvos dessas conversas denunciaram
recentemente que tiveram seus celulares hackeados ilegalmente, o que é crime.
O "Intercept", no entanto, disse
que obteve os diálogos antes dessa invasão. Segundo o site, as informações
foram obtidas de uma fonte anônima. O site diz que procuradores, entre eles
Deltan Dallagnol, trocaram mensagens com Moro sobre alguns assuntos
investigados.
Segundo o "Intercept", Moro
orientou ações e cobrou novas operações dos procuradores. Em um dos diálogos,
Moro pergunta a Dallagnol, segundo o site: "Não é muito tempo sem
operação?". O chefe da força-tarefa concorda: "É, sim".
Numa outra conversa, o site diz que é
Dallagnol que pede a Moro para decidir rapidamente sobre um pedido de prisão:
"Seria possível apreciar hoje?", e Moro responde: "Não creio que
conseguiria ver hoje. Mas pensem bem se é uma boa ideia".
O site também diz que os procuradores da
Lava Jato, em conversas num grupo de mensagens do Telegram, trocaram mensagens
expressando indignação quando o ex-presidente Lula foi autorizado pelo ministro
Ricardo Lewandowski a dar uma entrevista à "Folha de São Paulo".
Mensagens atribuídas aos
procuradores mostram que eles traçaram estratégias para cassar a autorização
por temerem que a entrevista ajudasse a eleger o então candidato do PT,
Fernando Haddad.
Os procuradores, sempre segundo o
"Intercept", comemoraram quando a autorização para a entrevista foi
cassada. O "Intercept" diz que isso mostra um viés partidário nas
ações contra o ex-presidente Lula.
Ainda segundo o "Intercept",
mensagens atribuídas a Deltan Dallagnol, chefe dos procuradores da Lava Jato,
sugeririam dúvidas sobre a solidez da denúncia contra o ex-presidente Lula no
caso do triplex de Guarujá poucos dias antes de ela ser oferecida ao então juiz
Moro.
O procurador diz a seus companheiros que a
ligação entre pagamentos de propina da Petrobras e o apartamento seria
questionada. E diz que esses pontos têm de estar bem amarrados e que eles devem
ter respostas na ponta da língua.
Em outro trecho de conversa, pelo Telegram,
segundo o "Intercept", Moro passou para Dallagnol pistas de suposta
transferência de propriedade para um dos filhos de Lula.
"Aparentemente a pessoa estaria
disposta a prestar a informação", diz Moro.
"Obrigado. Faremos contato",
responde o procurador.
Mas a pessoa não quis falar com os
procuradores, o que levou Dallagnol a dizer para Moro que argumentaria ter
recebido notícia apócrifa, para intimá-lo a depor.
"Melhor formalizar então",
aconselha Moro.
O site "Intercept" diz que na
Constituição brasileira um juiz não pode aconselhar o Ministério Público, nem
direcionar seu trabalho. Deve apenas se manifestar nos autos dos processos,
para resguardar a sua imparcialidade.
Especialistas ouvidos pelo Fantástico
disseram que não viram prática de ilegalidades nos diálogos, mas sim desvios
éticos, por considerarem que um juiz não deve orientar acusadores.
O ministro Sérgio Moro lamentou que a
reportagem não indicasse a fonte das informações e o fato de não ter sido
ouvido. Segundo ele, no conteúdo das mensagens que citam seu nome, "não se
vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto
magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das
matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação
Lava Jato".A força-tarefa da Lava Jato divulgou uma nota agora à noite declarando que seus
integrantes foram vítimas de ação criminosa de um hacker. E que esse hacker
praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida
privada e à segurança de seus integrantes.
Segundo a nota, o hacker invadiu telefones
e aplicativos dos procuradores da Lava Jato - e teve acesso à identidade de
alguns deles. Ainda segundo a força-tarefa, o autor do ataque obteve cópias de
mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho.
Dentre as informações ilegalmente copiadas,
possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em
andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa
e de suas famílias.
A força-tarefa afirma que os dados
eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à
legalidade e de forma técnica e imparcial.
Segundo a nota, na medida em que expõe
rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal do hacker cria enormes riscos
à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de seus familiares
e amigos.
A nota afirma ainda que os procuradores
mantiveram, ao longo dos últimos cinco anos, discussões em grupos de mensagens,
sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões pessoais. E que
vários dos integrantes da força-tarefa de procuradores são amigos próximos e,
nesse ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras.
A nota afirma que muitas conversas, sem o devido
contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas.
A força-tarefa afirma que estará à
disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de sua
responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena licitude
e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu trabalho à
sociedade.
Nota do ministro
Sérgio Moro
Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site
Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte
de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores.
Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação,
contrariando regra básica do jornalismo.
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